Ações de “propaganda computacional” e
“desinformação industrializada” sobre temas políticos afetaram
81 países — incluindo o Brasil — em 2020, segundo pesquisa divulgada em janeiro
deste ano pela Universidade de Oxford. Com fake news e mensagens fora de
contexto, as iniciativas foram impulsionadas por agências governamentais e
atores institucionais ou privados (como empresas, influencers e
partidos) de forma a manipular a opinião pública e aumentar a polarização da
sociedade nesses locais.
O estudo “Industrialized Disinformation
2020 – Global Inventory of Organized Social Media Manipulation”
revela que, desde 2009, foram gastos cerca de US$ 60 milhões (aproximadamente
R$ 321 milhões, em conversão direta) em serviços de desinformação no mundo
todo. E esses serviços aumentaram consideravelmente nos últimos anos. O número
de países a adotar as práticas também cresceu: de 70 em 2019 para 81 em 2020
(uma alta de 15,7%).
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Os serviços foram chamados de “desinformação
industrializada”, por estarem cada vez mais profissionais. Empresas, partidos e
outros atores da sociedade passaram a utilizar contas fake e robôs, organizados
em verdadeiras “tropas cibernéticas”, para propagar informações falsas.
Crescimento de desinformação industrializada no
mundo todo representa risco à população mundial. TierneyMJ/Shutterstock
Desinformação no
Brasil
Na classificação feita pela pesquisa, o Brasil está
entre os países com média capacidade de criar informação industrializada e tem
grupos prontos para atacar opositores do governo.
“As estratégias mais utilizadas no Brasil foram mensagens pró-governo, ataques
à oposição e polarização”, diz a pesquisadora Antonella Perini, integrante do
Projeto de Pesquisa de Propaganda Computacional do Oxford Internet Institute
(OII).
Segundo ela, as análises apontam para uma estrutura
organizada no governo federal, surgida durante a campanha eleitoral de 2018. O
pico de informações falsas foi observado após a saída de Luiz Henrique Mandetta
do cargo de ministro da Saúde, em 2020. Antonella diz que os principais ataques
são direcionados a “jornalistas e meios de comunicação críticos ao governo,
políticos e funcionários públicos”.
Ranking geral
No topo do ranking, a pesquisa indica 17 países,
com alta capacidade de desinformar. As ações envolvem funcionários em tempo
integral e, claro, muito dinheiro. Estados
Unidos, China, Reino Unido, Rússia, Venezuela e Irã são algumas das
nações na primeira colocação.
Junto do Brasil, estão outros 36 países (como
Austrália, Cuba, Polônia, México, Turquia e outros) que têm capacidade média de
produzir informação industrializada. Embora não estejam no topo da lista, essas
localidades também empregam equipes em tempo integral e podem promover ações
fora de seus territórios.
O terceiro e último grupo da lista é composto por
países com baixa capacidade de propaganda computacional. As ações geralmente
são observadas durante as eleições, mas são paralisadas até o próximo ciclo
eleitoral. Argentina, Colômbia, África do Sul e Espanha são alguns dos 27
países nessa categoria.
